Geral Subida de juros em 2022: qual o impacto no crédito habitação? Caso se confirme a decisão do BCE, poderá haver um aumento da prestação da casa. Mas quanto? Explicamos com casos concretos. 11 fev 2022 min de leitura A inflação continua a subir na Zona Euro – em janeiro atingiu o novo recorde de 5,1%. E para travá-la, o Banco Central Europeu (BCE) admite aumentar as taxas de juro diretoras já em 2022. E poderá mesmo fazê-lo mais do que uma vez ao longo deste ano. Esta subida terá, de resto, impacto nas taxas da Euribor às quais está indexada a maioria dos créditos habitação em Portugal. E, por conseguinte, na prestação da casa, que todos os meses se tem de pagar ao banco. Mas será este impacto significativo? Explicamos com base em simulações e casos concretos. Os alarmes soaram com a mudança de discurso de Christine Lagarde, presidente do BCE. Em novembro de 2021, disse que seria “muito improvável” subir as taxas de juro em 2022. Mas na passada quinta-feira, dia 3 de fevereiro de 2022, reconheceu que, afinal, há a hipótese de o regulador europeu fazer subir a taxa de juro diretora ainda este ano, uma medida que funciona como um travão ao aumento de preços continuo que se assiste na Europa e que vai continuar mais tempo do que o previsto, por várias circunstâncias. Christine Lagarde, presidente do BCE. / Wikimedia commons Esta possível mudança na política monetária no curto prazo já despertou reações entre economistas e analistas pela Europa. E já há previsões em cima da mesa. “Apesar do BCE não ter subido para já as taxas de juro, muitos acreditam que poderemos assistir a uma subida no segundo semestre deste ano ou início de 2023. Dentro da maioria das previsões, uma potencial subida das taxas de juro do BCE não terá efeito a curto prazo nos créditos habitação, isto é, no decorrer de 2022", dizem os especialistas do idealista/créditohabitação. Segundo apontam bancos internacionais como o Goldman Sachs, o Deutsche Bank ou o Commerzbank, a primeira subida da taxa de juro deverá ocorrer já depois do verão. Na sua expectativa, a taxa de juro dos depósitos deverá subir 25 pontos base em setembro, seguida de um aumento igual em dezembro. Isto quer dizer que ao fim de dois aumentos, a taxa de depósitos passará dos atuais -0,5% para 0%, valor que não é atingido desde 2014, escreve o Jornal de Negócios. Em Portugal, também Pedro Pita Barros, economista e professor da Nova SBE, crê que “é razoável esperar uma subida das taxas de juro ainda este ano”, mas “provavelmente [só] depois do verão”, quando se apurar novos dados sobre a atividade económica, a inflação e a pandemia, cita o Dinheiro Vivo. Já Carlos Andrade, economista chefe do Novo Banco, considera que “se não houver surpresas, esta decisão pode ocorrer no final de 2022 ou início de 2023, mas de forma gradual”. Foto de Teona Swift en Pexels Na visão de Pedro Lino, CEO da Optimize Investment Partners, a taxa de juro de referência poderá subir até três vezes este ano, sendo que esse aumento deverá ocorrer em pequenas parcelas de 0,1 pontos percentuais, cita o mesmo meio. E, se assim for, a taxa dos depósitos que está a -0,5% poderá chegar aos -0,2% em dezembro, estima Pedro Lino. A subida da taxa de referência do BCE é colocada em cima da mesa numa altura em que o Banco de Inglaterra e a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) já anunciaram que vão subir os juros para travar a inflação nas respetivas economias. Mas, segundo os especialistas, o regulador europeu deverá aumentar as taxas de juro de forma mais lenta e gradual do que os dois países. Isto porque a origem da inflação no espaço europeu é também diferente, sendo sobretudo marcada pela escalada dos preços da energia, evolução essa que - ao que tudo indica - deverá ser temporária. Foto de Tim Douglas en Pexels Subida dos juros terá impacto no crédito habitação? Como é que a subida da taxa de juro BCE vai influenciar o crédito habitação? Acontece que as "taxas de juro oficiais têm um papel determinante na formação das taxas de juro de curto prazo do mercado monetário interbancário da área do euro", esclarece o Banco de Portugal. Entre as quais está a Euribor. Isto quer dizer que a subida das taxas de juro pelo BCE vai impactar a evolução das taxas Euribor a 3,6 e 12 meses, às quais estão indexados os créditos habitação com taxa variável. Em resultado, poderá haver subida das prestações mensais a pagar ao banco. Há por isso quem esteja a considerar mudar de taxa variável para taxa fixa. Os economistas preveem que o mercado tenderá a antecipar as subidas das taxas de juro e, por isso, deverá observar-se um aumento das taxas Euribor ao longo do ano. E esta mudança deverá refletir-se nos empréstimos da casa nos próximos anos, embora o impacto previsto para 2022 não seja relevante. A verdade é que a Euribor a 12 meses - o indexante mais usado nos novos contratos de crédito habitação em Portugal – já está a dar sinais de subida: depois de ter registado -0,505% em dezembro de 2021, deu o salto no início do ano atingindo os -0,431% no primeiro dia do mês de fevereiro. Esta subida “apesar de pouco significativa, vai ter um impacto ligeiro no aumento das prestações do crédito habitação a partir da segunda metade de 2023, o que se prolongará em 2024”, explica Pedro Lino na mesma publicação. Segundo os especialistas do idealista/créditohabitação, "quem tiver um crédito habitação com taxa fixa não está sujeito às flutuações da Euribor, pelo que apenas sentirá o aumento quem tiver o empréstimo com taxa variável, ainda que no curto prazo o impacto não se prevê significativo”. E para melhor compreender como esta variação pode impactar nos bolsos dos portugueses, calculámos o que poderá mudar para os empréstimos bancários indexados à Euribor a 12 meses no valor de 120.000 euros, com prazo de 30 anos e spread de 1%. Os resultados são os seguintes: Neste exemplo, pode observar-se que se a Euribor a 12 meses subir para -0,25%, é possível que a prestação mensal do crédito habitação cresça 9,67 euros. Já no segundo cenário, se chegar a 0%, a prestação da casa pode mesmo aumentar mais de 23 euros por mês. Qual o impacto no crédito habitação nos próximos anos? As previsões dos economistas apontam para que as taxas do Euribor abandonem o terreno negativo já no próximo ano - ou até antes, no segundo semestre de 2022, tal como diz Pedro Pita Barros. E que apresentem uma tendência de crescimento em 2024. No caso da Euribor a três meses, o economista chefe do Novo Banco acredita que, embora deva permanecer negativa este ano, a média anual deverá atingir terrenos positivos em 2023 e deverá continuar a subir em 2024, mas para um valor inferior a 1%. No caso da Euribor a 12 meses, o CEO da Optimize Investment Partners espera que “lá para 2025, quando as taxas já estiverem a níveis de 0,5% ou até 1%, o impacto no crédito habitação vai ser grande”. E, segundo os seus cálculos, se o indexante subir para 1% vai representar o dobro da taxa de juro para quem tiver um spread de 1%. E o impacto desta subida também já foi estimado pela Deco. Se a Euribor passar dos -0,5% registados em dezembro para 1%, o impacto no crédito habitação seria tal, que iria custar mais 61 milhões de euros por mês às famílias. Foto de SHVETS production en Pexels Fonte: Idealista Geral Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado